Mega vs. Maga: Um novo equilíbrio?
Autor: Carim Habib
MEGA (Make Europe Great Again) como contraponto a MAGA (Make America Great Again): Uma nova narrativa de investimento está a emergir, onde a Europa está a recuperar o protagonismo na alocação global de ativos.
A recente descida do rating soberano dos Estados Unidos pela Moody’s, de Aaa para Aa1, vai além de um simples ajuste técnico. É um reflexo das crescentes fragilidades estruturais da economia americana, em particular ao nível da sustentabilidade orçamental. Este desenvolvimento levanta questões pertinentes para investidores institucionais e privados quanto à concentração geográfica das suas carteiras e destaca a necessidade de considerar alternativas — nomeadamente, os mercados europeus.
Segundo a Moody’s, a revisão justifica-se pela deterioração da capacidade orçamental dos EUA. As projeções do Congressional Budget Office (CBO) indicam que, até 2035, os encargos com juros poderão representar cerca de 30% das receitas públicas, com a dívida federal a ultrapassar os 130% do PIB. Estes números limitam a flexibilidade fiscal de Washington e desafiam a viabilidade de manter um rating de topo.
Apesar da força do USD e da profundidade dos mercados de capitais norte-americanos, o risco soberano já está a ser reavaliado e incorporado pelos investidores. O modelo da S&P Global Capital IQ, baseado em preços de credit default swaps, atribui aos EUA um rating implícito de BBB+ — seis níveis abaixo da notação oficial, e apenas dois acima do nível especulativo.
Em contrapartida, vários países europeus continuam a exibir ratings AAA, incluindo Alemanha, Países Baixos, Dinamarca, Suécia, Noruega, Suíça, Luxemburgo. Estes países beneficiam de contas públicas robustas, instituições estáveis e políticas fiscais mais prudentes — características cada vez mais valorizadas num ambiente global de elevada incerteza.
As regras orçamentais da zona euro e os mecanismos de supervisão supranacional reforçam a previsibilidade do risco soberano europeu. Embora a Europa enfrente os seus próprios desafios estruturais, oferece um quadro institucional menos exposto a volatilidade política extrema com impacto orçamental, como os recorrentes conflitos sobre o teto da dívida nos EUA.
Do ponto de vista de valor relativo, o mercado acionista norte-americano revela sinais de sobrevalorização. O S&P 500 apresenta um múltiplo P/E forward (preço vs lucros futuros) de cerca de 21 vezes, 20% acima da média histórica de 30 anos, e mais de 50% acima do europeu STOXX Europe 600, que negoceia atualmente a cerca de 14 vezes os lucros futuros.
O STOXX Europe 600 é o índice de referência para o mercado acionista europeu, agregando as 600 maiores empresas cotadas na Europa. Cobre uma ampla gama de setores — desde tecnologia, indústria, saúde e consumo — e proporciona uma exposição diversificada a economias desenvolvidas com fundamentais sólidos.
Entre os seus constituintes destacam-se empresas líderes globais como:
- SAP (tecnologia empresarial, Alemanha),
- Novo Nordisk (ciências da vida, Dinamarca),
- ASML (semicondutores, Países Baixos),
- Hermès (luxo, França),
- Nestlé (bens de consumo, Suíça).
Estas empresas combinam inovação, solidez financeira e liderança global nos seus setores, representando a vanguarda corporativa europeia e uma âncora de estabilidade e crescimento dentro do índice.
Assim, os mercados acionistas europeus oferecem mais do que uma diversificação tática — representam uma alternativa estratégica. Com múltiplos mais moderados, menor risco soberano e maior disciplina fiscal em muitos dos seus principais países, os ativos europeus podem desempenhar um papel central na construção de carteiras mais equilibradas e resilientes a longo-prazo.
O downgrade dos EUA poderá assinalar (e reforçar) um ponto de viragem nos fluxos globais de capital. A Europa, com fundamentais mais sólidos e empresas de “calibre” mundial, posiciona-se como uma alternativa credível e atrativa.
Este é o novo equilíbrio — MEuropeGA (Make Europe Great Again) como contraponto a MAGA (Make America Great Again). Uma nova narrativa de investimento está a emergir, onde a Europa poderá recuperar o protagonismo na alocação global de ativos.
A Dolat Capital presta consultoria de investimento através de “Teses de Investimento” específicas, tendo por base, entre outras, o perfil de risco e objetivos financeiros do Cliente. Este artigo não é uma “Tese de Investimento”, portanto não constitui uma recomendação nem consultoria de investimento. O desempenho passado não garante resultados futuros. O valor dos investimentos e o rendimento que deles advém pode descer ou subir e não é garantido, poderá não recuperar o montante que investiu.
A Dolat Capital presta consultoria de investimento através de “Teses de Investimento” específicas, tendo por base, entre outras, o perfil de risco e objetivos financeiros do Cliente. Este artigo não é uma “Tese de Investimento”, portanto não constitui uma recomendação nem consultoria de investimento. O desempenho passado não garante resultados futuros. O valor dos investimentos e o rendimento que deles advém pode descer ou subir e não é garantido, poderá não recuperar o montante que investiu.